quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

DEMÔNIO OU NINFA NA PAJUÇARA

                                         DIRCEU AYRES
O sol ardente queimava mais ainda seu corpo já enegrecido pelos banhos de mar. As ondas tão brancas, quanto as nuvens que pairavam no céu azul de brigadeiro, a brisa quebrava-se com violência de encontro a seu corpinho curvilíneo. Sugando o ar, beijando a água, acreditando numa carícia envolvente e, com as mãos molhadas, espalhava a espuma branca com certa volúpia sobre seu corpo. A própria mentalização de uma ninfa, de repente, um carrão. Vermelho como o carro do profeta Isaías, seus olhos caíram na silhueta de quem havia parado para apreciar aquela magnânima beleza e, como impelida pelo desejo de demonstrar o quanto à mãe natureza tinha sido bondosa consigo, fixou o corpinho frente aos olhos experientes do velho “Guerreiro” com o vento a sacudir seus lindos cabelos negros, e num gesto ousado, se atirou em direção ao velho Gálaxie parado. “Poderia me oferecer um cigarro, Senhor, acesso se possível?” Como negar, até o carrão se pedisse? Encostou-se no pára-lama cereja metálico, tragou, deu profundo suspiro “Obrigado”. Por alguns minutos ficou como a trocar comprimentos no olhar. As exuberantes e exíguas peças negras de seu mini vestuário marcavam com precisão absoluta e milimétricas as curvas que faziam os contornos de seu corpinho bronzeado e como se isto não bastasse, movimentava-se em ritmos estudados e cadenciados, maltratando a mente cansada do piloto “Guerreiro”. A ninfa com cerca de 16 ou 18 anos, sorriu com ar ingênuo e soltou um “lindo” baixinho, mas, bem pronunciado, e depois como num sopro: lindo, lindo, lindo por três vezes e o velho “Guerreiro” nada ouvia, estava como petrificado. Levantou-se saiu do velho Ford companheiro de tantas aventuras, e desventuras, acostumado a ver e participar de tantas peripécias olha-o e este continuava indiferente a tudo e a todos. Olhou o sol, meio dia, puxa vida, calor externo violento, interno ainda mais, dose para elefante quem seria aquela frágil criatura que consciente ou inconscientemente sabia ser tão cruel? Pensava consigo próprio e como para se consolar, disse de si para si “Não! Não pode ser normal, deve ser neurótica de personalidade psicótica com algum trauma de infância ou algum sentimento profundo e doentio”. E lá se foi a Ninfa, rindo fazendo caretas próprio de sua idade. Mas, seria mesmo uma Ninfa, ou o Demônio provocando para matar mais um? Que arrisco..., O carrão correu, passou junto, breve aceno. Quem sabe? Talvez um dia (se não for o Demônio), o velho Guerreiro hoje no estaleiro, possa ir a forra.

APALPADELAS MÉDICAS

                                                  DIRCEU AYRES
Como se não bastasse viver assustado com enfarto, morte súbita, Aneurismas e outras doenças que surgem na velhice e com o peso da idade. Principalmente com a idade avançada; muitos homens vivem com uma terrível preocupação como o de uma consulta com o Urologista Pois seria de se perguntar: você se sente bem após uma consulta médica hoje em dia? Estou falando de uma consulta normal com um médico normal. E destas normalidades!!!Tiro fora, preventivamente, o urologista e o toque prostático, que contraria tudo que de moderno existe hoje na Medicina. Porque às vezes penso... Um urologista não pode ser normal. Deve ter alguma inclinação de sadismo. Sentir como você é por dentro, ainda que numa pequena glândula próxima ao seu orifício retal, exige uma dedicação no mínimo esquisita. Não é normal viver de enfiar o dedo nos anus de homens, numa época em que tudo é diagnosticado através de exames sofisticados, de raios de todas as espécies, ondas curtas e longas, médias, intermediárias e tropicais, ressonâncias magnéticas, ecografias fotos internas do corpo, exame de sangue e os cambaus. Para examinar suas coronárias, bem mais estreitas e lá no alto de seu tórax, enfiam um cateter pela virilha que chega ao coração e, se preciso, imediatamente colocam um stent para corrigir alguma eventual obstrução. Para examinar sua próstata metem prosaicamente ou prazerosamente o dedo naquilo que é torto, mas chama de reto.
Há alguns anos, era diferente. Você relatava os sintomas, o médico fazia as perguntas clássicas para tentar identificá-los no quadro de doenças, auscultava seu coração, seus pulmões, depois o deitava numa maca e apalpava seu abdômen numa exploração minuciosa de algum órgão dolorido, sentia o calor e a cor de sua pele e dava algumas pancadinhas com os dedos juntos para sentir o som ou o eco do seu corpo. Fazia o que hoje se chama de Anamnese. Conheci um Médico que espalmava a mão sobre seu estômago e fígado e tamborilava sobre seu corpo com o dedo médio procurando algum som estranho ou indicativo de doença. Mesmo que você tivesse ido lá apenas para tratar de uma unha encravada. Hoje não. Você vai ao gastroenterologista com uma persistente dor na “boca do estômago”, espera uma apalpadela, uma apalpadela para ele sentir e identificar o local exato, até fazer uso de sua ciência, mas não adianta. O consultório não tem nem maca, mas fica escrevendo durante mais de hora sobre sua vida, seus antepassado, as doenças que seus parentes no passado tinham ou tiveram semelhante ou similar. Na última consulta, perguntei se deveria deitar na escrivaninha, apesar de ocupada com papéis, canetas e o micro computador. Ele disse que não precisava e me chamou de gozador. E eu estava falando sério... Saí de lá com uma requisição para endoscopia e outra para uma ecografia abdominal alta... Senti-me desprezado, diminuído, reduzido a uma coisa sem especificação humana. Para surpresa minha e do Médico, deu tudo normal. O médico é a única pessoa que pode apalpar você sem receio de qualquer comprometimento emocional e isto vale para ambas as partes, pelo menos em situação normal. Senão a consulta parece incompleta e você sai do consultório mais inseguro do que quando entrou. Exceto, como ressalvei no início, os urologistas. E falo de cadeira porque já estou na casa dos setenta 70. Digo, dos 70 anos, Ops. Não dos 70 exames. Se fosse de 70 exames já estaria desconfiado de mim mesmo. Agora ando desconfiado que alguns Pacientes que costumam mandar seus advogados entrarem com processos contra Médicos dessa especialidade, penso que pode ser que estejam sentindo falta de algumas apalpadelas, ou mesmo do famigerado exame. Como setentão, sou um otimista cético que tem por lema "nada é tão ruim que não possa piorar, acreditem!". Imaginem quando as coisas para alguns são consideradas boas. Às vezes penso que eu deveria subir uma montanha alta e lá ficar uivando como um lobo. Outra hora eu estaria pensando que não sou uma árvore e não tenho raízes fincadas ao chão, posso me movimentar, mas não tenho tomado nenhuma atitude e nada faço nem estou fazendo para mudar situação nenhuma. Que Diabos. Nasci com uma terrível alergia a homens, só de pensar que vou estar perto... Dá-me coceira, sai perebas pelo corpo todo, me sinto mal, imagine que até meu lado feminino nasceu e continua sendo “LÉSBICO”, imagino que na vida intra-uterina eu já lambia meus próprios dedos assim como lambi os dedos da Parteira, parece que já vivia numa faze de degustação oral intra-uterina. Pensando assim acredito que não iria arrumar a cama com a casa pegando fogo. A pergunta agora seria, como vou mudar meu eu depois de ser um chato setentão?.
Há poucos dias estava lendo sobre PALEONTOLOGIA, dei de cara com a notícia abaixo:
Sexta 30 de novembro de 2007, às 10h40.
“Hominídeo pré-histórico tinha “harém”, diz estudo”.
“Um parente pré-histórico do homem moderno, o Paranthropus robustus, que viveu há cerca de dois milhões de anos, mantinha "haréns", em que um macho dominante controlava um grupo de fêmeas, segundo um estudo publicado nesta semana pela revista Science. Segundo os autores do estudo, a diferença de tamanho entre machos e fêmeas dá as pistas sobre o comportamento sexual da espécie - essa diferença, conhecida como dimorfismo sexual, é associada no reino animal a uma estrutura em que um macho dominante rege um grupo de fêmeas, enquanto os machos menores, ainda não totalmente desenvolvidos, têm menos chances de se reproduzir.”
Ora, basta ler ou observar com certo cuidado e ficará sabendo que era algum antepassado ou parente meu, pois deste jeito é que fui criado e continuo sendo o mesmo e agindo da mesma maneira com meus setenta anos. Agora pense... Levar uma dedada para fazer um desgraçado exame que começa a aparecer em um exame de sangue (p.s.a.) e já deve existir Máquina com condição de efetuar esse tipo de exame, To FORA.

A Lei de Talião para o Brasil.

                                         Dirceu Ayres
Olho por olho, dente por dente. Esta é a famosa Lei de Talião. Em nossos momentos de revolta pensamos imediatamente em vingança e, ousamos em nossa ira, declamar que “bandido bom é bandido morto”. Ladrão bom é ladrão morto. Poderíamos aqui acrescentar que certos políticos aqui no Brasil se enquadrariam no provérbio.
Consideramos a frase acima como um aforismo de desabafo, pois é muito triste acreditar em sã consciência que queiramos ser senhores da vida alheia por mais desprezível que esta nos possa parecer. Os sociopatas, criminosos irrecuperáveis, autores de crimes hediondos, devem ser afastados de forma definitiva do convívio com a sociedade, assim como certos políticos que nunca fazem nada, nada pela sociedade, enriquecendo as nossas custas. Mas seria a pena de morte uma solução ou apenas um paliativo para aplacar a dor das vítimas? Poderíamos também arranjar um jeito para aqui nos defendermos dessa famigerada Lei de Murfy “Se há duas ou mais formas de fazer alguma coisa e uma das formas resultarem em catástrofe, então alguém a fará”. Deve ser isso que está nos acontecendo votando em Políticos que não somente dizem, mas garantem que lutarão pelos nossos interesses e quando chega lá esquece de tudo , só lembra de arranjar, arrecadar e juntar tudo que for vantágem para seu cofre, sua família e seus amigos e correligionários. Diábos, isso deve ser a lei de Gerson. Comenta-se que: A pessoa que "gosta de levar vantagem em tudo", no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com a ética, isso é a lei de Gerson. A expressão originou-se em uma propaganda, de 1976, para os cigarros Vila Rica, na qual o meia armador Gérson da Seleção Brasileira de Futebol era o protagonista. Embora tenha sido um dos maiores craques da história do futebol mundial, Gérson sempre foi um jogador polêmico e praticava essa mentira.
A propaganda dizia que esta marca de cigarro era vantajosa por ser melhor e mais barata que as outras, e Gérson dizia que era boa e verdadeira embora o cigarro não prestasse. Este ideal subjacente à "lei de Gerson" é, indiscutivelmente, um dos valores mais arraigados à cultura brasileira. Embora nem sempre verbalizado, a valorização e a mitificação desta "lei", do conceito de malandragem, do uso de "pistolões"(Br.) ou de "cunhas" (Pt.) são aqueles dos comportamentos socialmente condicionados que em grande parte levam o Brasil a manter-se tão imaturo cultural, política e socialmente. A forma como se dá a política brasileira, tão mal falada, antes de ser a causa dos problemas brasileiros, é, senão exclusivamente, ao menos simultaneamente conseqüência de valores tão maléficos. Agora imaginem se aplicasse-mos a Lei de talião (t-minúsculo) aos nossos polítcos que não sejam ou não consigam ser tão honestos quanto preciso e os fizessemos pagar devolvendo tudo que eles tirara desonestamente da Nação e depois os expurgasse, beleza, com certeza o Brasil iria melhorar muito.
A enxurrada de corrupção que está sendo conhecida pelos brasileiros vindos à tona dos subterrâneos enlameados deste país, em denúncias que surgem por vários cantos, mostrados pela imprensa, tem muito a ver com essa ou aquela "Lei de Gerson". Se o leitor examinar a fundo as motivações que levaram as pessoas, envolvidas nessas corrupções, a desejarem cada vez mais dinheiro extra, era à vontade, cheia de ganância, de "levarem vantagem" da função pública que exerciam, ou do cargo político para o qual foram eleitas. "Levar vantagem", desviando recursos públicos ou explorando outros que pagavam as propinas para também eles, "levarem vantagem" em alguma coisa. Chegou-se ao ponto, tempos atrás, de até um suplente de deputado mandar matar a titular para assumir o seu lugar, levando vantagem... Felizmente foi cassado. Parecia que ia se safar impune como tantos outros, como por exemplo, aquele "Anão do Orçamento" que chegou a ridicularizar a inteligência brasileira, dizendo que a grande fortuna que amealhou era fruto de mais de 200 prêmios ganhos na loteria e aquele tal juiz que teve a coragem de afirmar que a sua fortuna veio de um tio que era alfaiate e não era produto de desvio das verbas da construção de certo prédio do Tribunal em SP... E a sociedade brasileira (ou seja, cada um de nós, você, eu...) assiste estarrecida à escalada gritante de corrupção em muitos lugares, em escalões diversos das administrações do país, em muitas esferas de poder. E o que é mais estarrecedor: quando um corrupto é pego, nega e mente descaradamente... Essa escalada de corrupção parece indicar a disseminação social de um comportamento sem ética que está afetando o relacionamento entre as pessoas, condicionando-as a, também elas, quererem "tirar uma casquinha" de alguma oportunidade levando vantagem, também elas... Isso tudo tem ocorrido porque a sociedade atual incentiva às pessoas a uma busca frenética de "ter" cada vez mais, em detrimento do "ser", com valores de vida distorcidos, valorizando somente o "ter cada vez mais vantagens" sobre os outros (bens financeiros, em especial, bens materiais, etc.) não importando se para isso, elas precisem agir de modo desonesto, utilizando meios escusos e pouco éticos ou lícitos. Em outras palavras, parece ser a disseminação de que "ser desonesto, conseguindo vantagens, é ter mais valor, é ser mais esperto do que os outros". Assim, com esses valores de vida distorcidos, as pessoas começam a olhar para as outras como se elas fossem "lobos que podem devorá-las". Esse estado de coisas leva a refletir se a sociedade humana ainda tem condições de ter seres humanos mais equilibrados e saudáveis e que ajam com caráter, honradez e eqüidade, sem terem a necessidade de "passarem por cima" de Leis, da ética, para levarem vantagem. Uma sociedade onde ser honesto, ter caráter e agir com responsabilidade seja a regra geral para as pessoas e não a exceção. Há muitos anos atrás Rui Barbosa (1849-1923), estadista, jurista, Ministro da Fazenda e embaixador, já alertava em carta aos senadores da época: "A falta de justiça, Srs. Senadores, são o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais. A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.