domingo, 18 de setembro de 2011

Heloísa deve trocar PSOL por partido de MarinaEx-senadoras selam aliança para disputa da Presidência em 2014

                                              Dirceu Ayres
                
Alagoana critica Dilma e ironiza faxina; "Faz de conta que promove a limpeza para preservar o corpo putrefato” BERNARDO MELLO FRANCO DE SÃO PAULO Sem espaço no PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena decidiu embarcar no projeto de Marina Silva, que deixou o PV em julho e estuda criar um partido para se candidatar à Presidência de novo em 2014.Elas ensaiaram a união ano passado, quando Heloísa quis ser vice de Marina, mas os socialistas vetaram a idéia para lançar a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio.A alagoana renunciou à presidência do PSOL depois da eleição, e agora autorizou a amiga a usar seu nome no movimento suprapartidário que deve dar origem a uma sigla sob sua liderança.A aliança seria formalizada ontem, em ato promovido por Marina em Brasília, mas Heloísa não pôde ir por problemas de saúde -ela se recupera de um possível AVC (acidente vascular cerebral)."É um momento muito especial", disse à Folha, de Maceió. "Espero estar com Marina na construção deste processo, que poderá culminar, como acho que certamente acontecerá, numa organização partidária para 2014."Heloísa disse não se sentir presa ao PSOL, que ajudou a fundar depois de ser expulsa do PT por negar apoio a reformas do governo Lula."Não tenho mais nenhuma relação mística com estruturas partidárias, como se elas fossem donas da verdade absoluta ou proprietárias das bandeiras ideológicas com que me identifico", disse.A ex-senadora deve ser acompanhada por aliados como os presidentes estaduais do PSOL Jefferson Moura (RJ) e Edílson Silva (PE), que se reuniram ontem com Marina.Heloísa ficou em terceiro lugar na corrida presidencial de 2006, com 6,5 milhões de votos. No ano passado, perdeu a eleição para o Senado por Alagoas. Ela é vereadora em Maceió e diz não saber se disputará a reeleição em 2012. Ontem, ela quebrou o silêncio sobre o governo Dilma Rousseff, que comparou às gestões de Fernando Henrique Cardoso e Lula. "É a mesma coisa. O mesmo fatalismo neoliberal na política econômica e a mesma metodologia da roubalheira política", atacou. Heloísa ironizou a faxina promovida por Dilma, que afastou ministros e servidores acusados de corrupção."Acredito em fadinhas e bruxinhas, mas não acredito nisso. O sistema precisa que algumas partes podres sejam retiradas para que o odor não chegue de tal forma que a opinião pública queira destruir o sistema todo", afirmou. "Ao longo da história, esta prática já foi usada muitas vezes. Faz de conta que promove a limpeza para preservar o corpo putrefato." O ato promovido por Marina teve referências explícitas a uma nova campanha ao Planalto. "Sua candidatura fez bem ao Brasil, mas sua eleição para a Presidência fará bem ao planeta inteiro", disse o ex-deputado José Fernando Aparecido (ex-PV).Também compareceram políticos de outros partidos, como os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Taques (PDT-MT). FOLHA DE SÃO PAULO

Ofício de Peluso a Dilma reabre a crise STF X Planalto

        Dirceu Ayres



Uma mensagem enviada a Dilma Rousseff pelo presidente do STF, Cezar Peluso, reabriu a crise que opõe o Judiciário ao Planalto. No texto, Peluso pede informações a Dilma sobre a inclusão no Orçamento de 2012 da verba destinada aos reajustes salariais do Judiciário. Coisa de R$ 7,7 bilhões. Incluídos na previsão orçamentária elaborada pelo Supremo, os recursos haviam sido excluídos da proposta enviada por Dilma ao Congresso. Peluso chiou em público. Chamou o corte de “equívoco”. Exigiu providências. Há duas semanas, em 2 de setembro, Dilma enviou ao Congresso uma mensagem. No documento, embora criticasse a demanda do STF, Dilma informara aos congressistas sobre a cifra que o governo passara na lâmina. No mesmo dia, Peluso dera-se por satisfeito. Classificara o entrevero de “página virada”. Para o STF, estava entendido que a verba seria restituída ao Orçamento. Deve-se a reabertura da encrenca a declarações feitas pela ministra Miriam Belchior (Planejamento) em audiência pública no Senado. Falando aos senadores há dois dias, na quarta (14), Miriam disse que o governo não planeja incluir na proposta de Orçamento para 2012 o reajuste do Judiciário. Afirmou que, quando a programação orçamentária começou a ser discutida, no primeiro semestre, não havia clareza quanto à profundidade da crise. Agora, já convencido de que o Brasil não está imune aos solavancos que sacodem a Europa e os EUA, o governo prefere não comprometer os R$ 7,7 bilhões. Peluso enxergou nas declarações da ministra uma quebra de compromisso. Daí o ofício enviado a Dilma. É datado de ontem. Pode ser lido aqui. Peluso recorda em seu texto a mensagem que Dilma enviara ao Congresso em 2 de setembro. E anota respeitoso: “Tenho a honra de solicitar a Vossa Excelência que informe a esta Corte se será, ou não, encaminhada, por essa Presidência, mensagem modificativa à de no 344/2011 [Orçamento de 2012]…” “…[…] Para incorporar as despesas previstas pelos órgãos do Poder Judiciário da União.” Peluso não deixa dúvidas quanto ao tipo de despesa a que se refere. Menciona especificamente a “recomposição dos subsídios dos magistrados e da remuneração dos servidores do Poder Judiciário da União.” Cita a “criação do adicional de qualificação para os técnicos judiciários graduados.” Dilma ainda não respondeu ao ofício do presidente do Supremo. Em privado, Peluso e seus colegas de tribunal classificam de inaceitáveis os comentários de Miriam Belchior. Recordam que a Constituição reserva ao STF a atribuição de definir o seu próprio Orçamento. Ao Executivo não cabe senão incorporar os dados ao Orçamento geral. Por esse raciocínio, apenas o Congresso dispõe de poderes constitucionais para modificar a proposta orçamentária definida pelo STF. Prevalecendo o impasse, o Supremo não pretende cruzar os braços. Adotará providências jurídicas contra o governo. Ou seja: a declaração feita por Peluso há duas semanas ganhou sentido novo. A “página foi virada”. Só que para trás.Por Josias de Souza, na Folha.com

O CAMINHO ESTÁ ABERTO PARA A IMPUNIDADE

             Dirceu Ayres
Delegados da Polícia Federal se declaram perplexos com a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que mandou anular as provas da Operação Boi Barrica. Eles avaliam que o Judiciário se curva ante investigados que detêm poder político e econômico. Temem que outras operações de grande envergadura tenham o mesmo fim. 'A PF não inventa, ela investiga nos termos da lei e sob severa fiscalização', disse o delegado Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, diretor de Assuntos Parlamentares da Associação Nacional dos Delegados da PF.'No Brasil não há interesse em deixar investigar', afirma Leôncio. 'As operações da PF são executadas sob duplo grau de controle, do Ministério Público Federal, que é o fiscal da lei, e do Judiciário, que atua como garantidor de direitos. Aí uma corte superior anula todo um processo público com base em quê? Com base no 'ah, não concordo, a fundamentação do meu colega que decidiu em primeiro grau não é suficiente'. Nessa hora não importa que os fatos são públicos e notórios e que nem sequer há necessidade de se ficar buscando uma prova maior.'Leôncio considera 'revoltante' ouvir críticas de que a PF investiga mal. 'O País não pode aceitar que uma operação seja anulada porque o tribunal não concorda com a fundamentação do juiz de primeiro grau, 'ah, quem tinha que ter autorizado não era o juiz federal da 1.ª vara, a competência era do juiz da 2.ª vara'. Isso atende a uma elite.'Para o delegado, 'o Legislativo faz mal as leis' e 'a polícia trabalha com instrumentos legais limitadíssimos'. 'As leis são limitativas e restritivas, como a da interceptação telefônica. O pano de fundo é o Judiciário a serviço das elites.'Contaminação. Segundo Leôncio, as recentes decisões do STJ, que jogaram na gaveta inquéritos sobre grandes operações, 'vão contaminar várias outras investigações e sob esse mesmo argumento'. 'O problema está nos tribunais superiores: eu não quero condenar, eu não quero deixar condenar. Maquiavelicamente, setores da mídia atacam a PF e passam a imagem de polícia nazista, que não respeita direitos e garantias fundamentais. 'A PF investiga, apresenta provas, mas tudo isso não tem valor porque temos um Poder Judiciário cuja cúpula é comprometida com esse status que está aí. Chega uma turma de um tribunal superior, distante dos fatos, diz que isso tudo é abuso, não está bem fundamentado e que a legislação não permite que se faça isso ou aquilo. O Brasil está nesse dilema. Essas decisões têm caráter ideológico, não jurídico. A PF está no meio dessa guerra. Um Brasil que compactua com a corrupção e um Brasil que quer ser passado a limpo.''A PF respeita as decisões judiciais, mas o trancamento da Boi Barrica é temerário', assevera Amaury Portugal, presidente do Sindicato dos Delegados Federais em São Paulo. 'Fica muito difícil para a PF trabalhar, primeiro as algemas que não podem ser usadas no colarinho branco, depois as escutas.'Ele não aceita o rótulo de ilegalidade que o STJ cravou na Boi Barrica. 'Como ilegal se tudo foi realizado com autorização da própria Justiça? O delegado que presidiu o inquérito da Boi Barrica não ia fazer escuta se não estivesse amparado em decisão judicial. Qualquer passo o delegado tem que comunicar ao juiz, abrindo vista para o procurador.' Para Portugal, 'as últimas decisões judiciais são estapafúrdias'. Ele faz um alerta. 'Vamos cansar. O governo está intimidado. A porta para a impunidade está aberta.'Defesa da PF LEÔNCIO RIBEIRO DIRETOR DA ADPF 'A PF não inventa, ela investiga nos termos da lei e sob severa fiscalização, sob duplo grau de controle, da procuradoria e da Justiça' AMAURY PORTUGAL PRESIDENTE DO SINDICATO DOS DELEGADOS FEDERAIS EM SP'Trancamento da Boi Barrica é temerário. Vamos cansar. A PF faz a sua parte, mas o governo está intimidado.'

CONTARDO CALLIGARIS FOLHA DE SP -

                 Dirceu Ayres
O terrorista é atormentado pela tentação de ser "convertido" pelo Ocidente e, por isso, já nasce derrotado Em 2001, eu morava em Nova York, mas, na manhã de 11 de setembro, estava em São Paulo, atendendo no consultório. Alguém me telefonou dos Estados Unidos: "Ligue a CNN". Passei o dia diante da televisão. Só levantava para me desculpar com os pacientes por não poder atendê-los naquele dia. Um amigo chegou depois da queda das torres e perguntou: "Você conhecia alguém que estava lá?". Ele me lembrou que eu respondi: "Todos, conhecia todos". E era verdade: o engraxate, o garçom, o gestor de fundos da Cantor Fitzgerald, o bombeiro, o policial, o advogado, o segurança, a secretária, de todas as nações, fés e classes -eu era capaz de empatia com os sonhos de cada um deles: o imigrante sem documentos querendo "fazer a América"; o "senior partner" esperando pela aposentadoria; o jovem louco para fazer seu primeiro milhão; o outro que já o tinha feito e se perguntava se, casando, ele se mudaria para Westchester ou para Brooklyn Heights; o homem já maduro que acabava de decidir que, no dia de Ação de Graças, levaria o namorado para a casa dos pais, para explicar, enfim, que era homossexual e estava cansado de mentir. Eles eram minha turma, eu era um deles, justamente pelas razões que os juntaram nas torres do World Trade Center: os anseios básicos da mente ocidental (o sonho de merecer a admiração ou, mais mesquinhamente, a inveja dos outros, a vontade sempre frustrada de não renunciar a suas paixões, a ambição, também frustrada, de escutar só seu nariz e seu foro íntimo). Sentia culpa por não ter estado em Nova York, com eles, na hora do ataque. Pensava nas palavras de meu pai, quando, na Itália dos anos 70, ele tinha me acompanhado numa manifestação que talvez fosse alvo dos terroristas de direita. Ele tinha dito: "Não vamos deixar que eles influenciem nossa vida simplesmente porque acham que podem decidir o dia de nossa morte".Se me lembro direito, embarquei no voo para o qual eu já tinha reserva, o AA 950 de sexta-feira, 14 de setembro, que foi o primeiro a sair de São Paulo depois do ataque. Houve aplausos na chegada, para agradecer à tripulação (a dos voos abatidos e a do nosso); lembro-me de que a tripulação nos aplaudiu de volta. Em Nova York, desci a pé ao sul da Canal Street. Foi o começo de um velório coletivo que durou meses: noites passadas com desconhecidos, sobre a passarela da Chambers Street, olhando em direção ao marco zero e vendo os caminhões que, noite adentro, esvaziavam os escombros, subindo pela West Street.Pouco tempo depois do ataque, George Bush encorajou todo o mundo a fazer compras, "para sustentar a economia da cidade" -ridículo, mas era também um jeito de declarar que o atentado não alteraria nossa maneira de viver. A melhor resposta ao terror é não deixar que o medo nos modifique. Por isso protestei contra o uso da tortura e contra a prisão em Guantánamo -não por razões humanitárias, mas para não ser transformado pelo terror. Na segunda-feira seguinte, fui para Boston, de onde escrevi a coluna de 20 de setembro de 2001 ("De Onde Vêm os Terroristas"), na qual expressava idéias que se tornariam óbvias só bem mais tarde."Os terroristas que atacaram o World Trade Center e o Pentágono viveram tempos longos no Ocidente. Freqüentaram universidades e escolas de pilotagem. Não eram pastores descidos das montanhas. Os comentaristas estranham: 'Como é possível? Moraram entre nós durante tanto tempo e puderam fazer isso? Ou seja, será que nossa sedução não funcionou?'. Justamente: ela funcionou demais. A ponto de eles terem decidido destruir o objeto de seus desejos. A interpretação política de seus atos será sempre insuficiente: as Torres Gêmeas, para eles, eram símbolos não tanto de poder quanto de tentação. Sua 'guerra santa' foi isso: mataram os infiéis nos quais receavam (e desejavam) se transformar. E mataram a si mesmos para nunca mais serem seduzidos." O terrorista é atormentado por uma tremenda tentação de ser "convertido" pelo Ocidente. Por isso o terrorismo nasce derrotado -por ser filho de uma inveja que só existe em quem já se vendeu ao suposto inimigo. Em suma, os terroristas de hoje nos matam por raiva de quererem ser como a gente: traíram sua cultura e estão em busca de redenção. Nota: o livro de A. Appadurai, que citei na semana passada, existe em português, "A Vida Social das Coisas" (Eduff). POSTADO POR MURILO

Lula, o "X da questão do mensalão”.

                          Dirceu Ayres
Editorial do Estadão, sobre as tramóias para tentar livrar os mensaleiros: Com o término, na quinta-feira passada, do prazo para os réus do mensalão apresentarem suas alegações finais no processo aberto contra eles em 2007, que o STF deverá julgar no próximo ano, vieram a público os argumentos graças aos quais pretendem ser absolvidos os mais notórios protagonistas do escândalo de suborno de deputados federais para favorecer o presidente Lula, no seu primeiro mandato. É o caso dos integrantes do "núcleo principal da quadrilha", conforme a denúncia formulada pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza - e ratificada em sua quase totalidade pelo seu sucessor, Roberto Gurgel.Reconduzido pela presidente Dilma Rousseff para um novo período no cargo, Gurgel corroborou, por exemplo, a conclusão de Souza, segundo a qual o então ministro e depois deputado cassado José Dirceu foi o "chefe da quadrilha" que arquitetou e conduziu, a partir do PT, o esquema de compra de apoios ao governo Lula no Congresso Nacional. Dos 40 réus originais, um (o ex-deputado José Janene, do PP) faleceu, outro (o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira) foi excluído do processo em troca de prestação de serviços comunitários e dois foram exonerados, por falta de provas, pelo atual procurador: o ex-ministro Luiz Gushiken e um irmão do tesoureiro do PL, Antonio Lamas. Os advogados de Dirceu reiteraram, nas razões finais, que inexiste no processo algo "que possa sequer sugerir" que o seu cliente interferisse ou mesmo estivesse a par do que se passava na administração ou com as finanças do partido do qual já tinha sido presidente, no período que esteve à frente da Casa Civil. "Todas as provas" escreveram os criminalistas que o defendem, "mostram que (o ex-tesoureiro) Delúbio Soares atuava com independência". Eles consideram "completamente descabida" a versão de que Dirceu tivesse qualquer vínculo com o publicitário Marcos Valério, tido como o operador do mensalão. Caberá ao STF, a começar do relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, acolher ou rejeitar à luz dos autos essas negativas aparentemente implausíveis.Se fossem ao menos verossímeis, o procurador-geral Gurgel não teria endossado com tamanha convicção o juízo do predecessor sobre o dirigente petista. É bem verdade que Delúbio chamou a si a responsabilidade exclusiva pelos negócios do partido com Marcos Valério. Mas é o que se espera de qualquer pezzonovante mafioso conhecedor do implacável código de conduta da organização. Já o então deputado e presidente da legenda, José Genoino, tentam se distanciar dos suspeitos empréstimos tomados em 2003 por Delúbio no Banco Rural e no BMG, no valor de R$ 2,4 milhões, em benefício de companheiros e dos novos amigos do governo Lula.A defesa de Genoino, para quem os empréstimos se destinavam a "fazer frente ao verdadeiro caos financeiro vivenciado pelos diretórios regionais do PT", afirma que ele assinou os papéis apenas "por condição estatutária". Por esse inconvincente raciocínio, "a legalidade, a viabilidade e o cabimento das transações" não eram da alçada do titular do partido, sendo o seu autógrafo "requisito meramente formal para a execução do empréstimo". Genoino, assim como Dirceu e Delúbio, foram denunciados por formação de quadrilha e corrupção ativa. Marcos Valério responde ainda por lavagem de dinheiro, peculato e evasão de divisas.O seu advogado pergunta como pode o seu cliente ser condenado por supostamente intermediar o financiamento do esquema, sem que estejam em julgamento "as condutas dos interessados no suporte político "comprado" (presidente Lula, seus ministros e seu partido) e dos beneficiários financeiros (partidos políticos da base aliada)". Assinala ser esse "um raríssimo caso de versão acusatória de crime" que deixam mandantes e beneficiários em segundo plano, "alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula". Esse sempre foi o xis da questão: a tentativa de Lula de fazer crer que ignorava o esquema por completo - cego, surdo e mudo como os macaquinhos da metáfora. Por Orlando Tambosi

TUDO O QUE PRECISAMOS SABER SOBRE MARACUTAIA.

                 Dirceu Ayres
Precisamos criar mais um pouco de vergonha principalmente quando se trata desses políticos octogenariamente pendurados. Em casos como Pedro Novaes ou José Ribamar Sarney, por exemplo, nem Viagra consegue reerguer. Pedro Novais é o quinto ministro que deixa o cargo no governo Dilma Roussef pelo envolvimento em falcatruas. Outros que, em pouco menos de nove meses, saíram do atual governo também por causa de FALCATRUAS: Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa) e Wagner Rossi (Agricultura). Sem contar com o troca-troca que tirou Ideli Salvatti do ministério da Pesca e a colocou nas Relações Institucionais, dando 'a pesca' para Luiz Sérgio. A importância do ministério da pesca está numa entrevista de Pedro Novais em que ele fala, cheio de pompa e arrogância, sobre uma portaria de seu ministério que determina a Classificação Hoteleira. Num país em que não funciona a saúde nem a educação - por inoperância e interesses. Numa entrevista na TV, Dilma teve a coragem de confessar, que, se dependesse dela, nenhum ministro seria demitido. Em sua lógica, o jornalista diz que "as ações de despejo vão prosseguir porque a imprensa independente seguirá publicando a verdade. E mais despejos serão consumados porque, como alerta uma das frases emblemáticas do movimento contra a corrupção, os padrinhos dos bandidos de estimação podem muito, mas não podem tudo. A desonestidade de Pedro Novaes em seis tempos: Farra no motel com dinheiro público - Pedro Novais, então deputado federal, pediu ressarcimento de R$ 2.156 à Câmara por gastos em um motel de São Luís (MA), 2010. Acuado –e só por isso - Novais ressarciu os cofres públicos. Apesar da falta de honestidade evidenciada, além de não sofrer nenhum tipo de punição, ainda ganhou, de presente, o ministério ... da pesca.Noticiado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” Operação Voucher O secretário-executivo do ministério, Frederico Costa da Silva, e o ex-presidente da Embratur, Mário Moysés, recebiam propina em dinheiro do grupo acusado de desviar recursos da pasta. Trinta e cinco pessoas foram presas na Operação Voucher da Polícia Federal, no dia 9 de agosto, todas suspeitas de desviar recursos da pasta por meio de emendas parlamentares. O dinheiro desviado chega à casa de R$ 10 milhões. A ONG Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável) e o Instituto Brasileiro de Hospedagem estão envolvidas no caso. Motorista da esposa de Pedro Novaes - Um funcionário da Câmara presta serviço como motorista particular à esposa de Novais, O funcionário Adão Pereira foi contratado pelo gabinete de Francisco Escórcio (PMDB-MA), mas nunca trabalhou com o deputado. Foi exonerado na terça-feira. O caso da governanta - Pedro Novaes usou, durante sete anos, a verba de gabinete parlamentar para pagar o salário de sua governanta. Outra notícia da Folha de S. Paulo. Como era feita a mutreta no caso da governanta: foi contrata como ‘recepcionista’ por uma empresa terceirizada do Ministério do Turismo logo que Novais assumiu os encargos turísticos; trabalhava no apartamento de Novais em Brasília, mas recebia como secretária parlamentar. Telefonema suspeito com Fernando Sarney: Novais pedia ajuda ao filho de Sarney para beneficiar um de seus aliados políticos na Justiça Eleitoral. Empresa de fachada Em 2010, ainda deputado federal, Pedro Novais destinou R$ 1 milhão para uma empresa de fachada construir uma ponte no município de Barra Corda (MA). As informações foram publicadas no jornal Folha de São Paulo, em agosto deste ano.

Lula começa a sentir a reação à sua administração desastrada.

                  Dirceu Ayres
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu ontem em defesa do seu pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, ministro Fernando Haddad (Educação), que foi vaiado em cerimônia no ABC paulista. É a segunda vez nesta semana que Haddad é hostilizado em evento público. Na quarta-feira, ele foi recebido com vaias em um evento na USP. Lula, que também foi alvo ontem das vaias de cerca de 20 estudantes ligados ao PSOL e ao PSTU, participou ao lado de Haddad de comemoração dos cinco anos da Universidade Federal do ABC, em Santo André. O ex-presidente chegou a perder a paciência com os estudantes. "Gritar é bom, mas ter responsabilidade é muito melhor", afirmou Lula, em cima de um palco em uma tenda no câmpus, onde havia para uma plateia de cerca de 500 pessoas. Os estudantes protestavam pelo investimento de 10% do PIB em educação. "Haddad, eu não me engano, 7% é proposta de tucano", gritavam para o ministro, que respondeu: "Infelizmente, a direita conservadora conta com o apoio da esquerda conservadora para evitar o progresso do nosso País". Lula discursou minutos depois de Haddad e defendeu o ministro, nomeado por ele para a pasta da Educação em 2006. "Eu duvido que na história deste País um ministro da Educação tenha se dedicado 10% do que esse rapaz se dedicou", disse. Haddad é o nome que Lula tem defendido em seu partido para disputar a Prefeitura no ano que vem. O ex-presidente avalia que o ministro, que foi professor universitário e é uma novidade eleitoral, teria mais condições de conseguir votos na classe média paulistana que resiste ao PT. Manifestação. Lula ironizou os jovens ao dizer que a reivindicação não fora feita durante sua gestão. "Se esses jovens tivessem feito a reivindicação no meu governo, possivelmente teriam sido atendidos e não estariam aqui com essas faixas", declarou. Para os estudantes, o ex-presidente disse ser a favor de investir os 10% em educação, além de uma parte dos recursos oriundos do pré-sal. Fez, no entanto, uma ponderação: "Mas essas coisas não acontecem porque o cidadão se sente no direito de gritar. Essas coisas se constroem". Depois, citou momentos biográficos para falar que não era contra protestos. "Se tem uma coisa que aprendi a respeitar é o direito das pessoas reivindicarem porque se não fosse assim eu não teria virado presidente da República", afirmou. "Se eu tivesse medo de greve, eu não teria feito as maiores e as melhores do País", completou, em referência às paralisações lideradas por ele no final dos anos 70. No final do evento, Lula baixou o tom. "Uma sociedade que grita contribui mais que uma sociedade que silencia", disse o ex-presidente, pouco antes de encerrar o discurso. Estadão