sábado, 29 de outubro de 2011

Lula está com câncer na garganta. Chances de cura são 68%.

 Dirceu Ayres  

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diagnosticado com tumor na laringe, segundo boletim médico divulgado na manhã deste sábado pelo Hospital Sírio-Libanês. Lula terá de fazer tratamento com sessões de quimioterapia. A doença foi confirmada após avaliação multidisciplinar. Ainda segundo boletim, Lula encontra-se bem e deverá realizar o tratamento em caráter ambulatorial. A equipe médica que o acompanha é formada por Roberto Kalil, Paulo Hoff, Artur Katz, Luiz Paulo Kowalski, Giberto Castro e Rubens V. de Brito Neto. Abaixo, íntegra do boletim: "O Ex-presidente da República, Sr. Luís Inácio Lula da Silva realizou exames no dia de hoje no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, tendo sido diagnosticado um tumor localizado de laringe. Após avaliação multidisciplinar, foi definido tratamento inicial com quimioterapia, que será iniciado nos próximos dias. O paciente encontra-se bem e deverá realizar o tratamento em caráter ambulatorial. A equipe médica que assiste o Ex-Presidente é coordenada pelos Profs. Drs. Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Artur Katz, Luiz Paulo Kowalski, Gilberto Castro e Rubens V. de Brito Neto".(O Globo) Veja como é o câncer de laringe: As neoplasias de laringe são 2% das neoplasias malignas do Brasil com oito mil casos novos por ano. Compreendem 3,8% das neoplasias malignas no homem e 0,6% nas mulheres, correspondendo a três mil mortes por ano. A doença é predominante na idade entre 50 a 70 anos e representam 20% dos casos de câncer de cabeça e pescoço. O tipo histológico mais prevalente é o carcinoma epidermóide em mais de 90% dos pacientes com câncer de laringe. O local mais freqüente de neoplasia maligna na laringe é na glote, seguido da supraglote, com 25% de freqüência aproximada e, por último, a subglote, com menos de 4% de freqüência. O câncer de laringe tem origem na prega vocal em, aproximadamente, 75% das vezes. Quando conduzido adequadamente, é considerado como um dos processos neoplasicos malignos de maior chance de cura, com taxa de 68%. Rouquidão que persiste por mais de duas semanas é um forte sinal para que o paciente e o médico façam avaliação das pregas vocais para o diagnóstico apropriado, especialmente em pacientes tabagistas e/ou etilistas. Fatores de risco Vários fatores de risco têm sido associados ao desenvolvimento de câncer de laringe, especialmente, tabaco, álcool, exposição ocupacional e radiação. Alguns outros fatores estão relacionados, porém, não bem estabelecidos, como infecções por papiloma vírus e tipo de nutrição. Fumo e álcool. O câncer de laringe é extremamente raro em não-fumante. O risco é proporcional ao número de cigarros fumado por dia e o risco de adquirir câncer de laringe pode ter um “odds ratio” de 13,2 vezes maior em fumantes do que em não-fumantes Foi considerado um risco de 4,4 vezes maior de câncer de laringe para quem fuma meio maço por dia e até 10,4 para quem fuma dois maços por dia. Foi estabelecida uma relação nítida entre o câncer de laringe e o álcool, com o dobro de risco para os etilistas. Também ocorre um sinergismo entre o álcool e o fumo, aumentando o risco de desenvolvimento de câncer de laringe. Ocupação Há algumas atividades de risco para o câncer de laringe, dentre elas estão aquelas onde ocorre exposição ao níquel, gás mostarda, granjeiro, marceneiro e maquinistas. Desde 1970, a exposição a asbesto tem sido considerada como fator de risco, inclusive por meio de estudos de caso-controle. Exposição a ácido sulfúrico pode ocasionar, também, câncer de laringe, assim como trabalhadores expostos à cimento e à madeira. Nutrição e dieta Estudos caso-controle indicaram que alto consumo de alimentos salgados e gordurosos são associados com câncer de laringe. Por outro lado, consumo de legumes e vegetais in natura, frutas, tem efeito protetor em outros estudos caso controle. Vírus HPV tipos 16,18 e 33 podem estar relacionados com câncer de laringe, porém, após estudos grupo controle, sem tabagismo ou etilismo, não houve diferença estatisticamente significativa. Refluxo gastroesofágico Um estudo caso controlado, com controle de idade, gênero e tabagismo, demonstrou um aumento significativo de câncer de laringe em pacientes com RGE, mas uma metanálise de 18 artigos mostrou pouco suporte a esse possível fator etiológico. Genético Estudo brasileiro caso-controle, mostrou um alto risco de carcinoma epidermóide entre indivíduos com parentes de primeiro grau com câncer de via aerodigestiva superior.

Acórdão TCU-DNIT libera aditivos para obras suspeitas de fraudes. O slogan é: "pra não Para, pode roubar”.

                  Dirceu Ayres
O Tribunal de Contas da União (TCU) atendeu pedido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e liberou acréscimos contratuais em 101 obras que, conforme sua própria interpretação estão em desacordo com a Lei de Licitações. A decisão contempla vários empreendimentos suspeitos de irregularidades, cujos aumentos de custos foram à fonte da crise que desalojou quase toda a cúpula do órgão em junho e julho. Na prática, o Dnit não terá de cumprir, para essas obras, entendimento mais rigoroso do tribunal sobre Como calcular os limites dos chamados aditivos contratual. Antes de a decisão ser levada a plenário e aprovada por unanimidade, na última terça-feira, o relator do caso no TCU, ministro Walton Alencar, recebeu em seu gabinete o novo diretor-geral do Dnit, general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, que usou como argumento o suposto risco de paralisação das obras. Segundo ele, seguir o modelo de cálculo imposto pelo TCU o obrigaria a rescindir contratos, readequar projetos e lançar novas licitações. Na lista, levada pelo Dnit ao ministro consta obras suspeitas de superfaturamento, pagamentos e contratações irregulares, como as da BR-101 no Nordeste e no Sul, além do Contorno Rodoviário de Vitória, cujos problemas estão relatados em auditorias do TCU e da Controladoria Geral da União (CGU). A Lei de Licitações (8.666/93) permite que itens e serviços de uma obra pública sejam alterados, desde que o impacto financeiro não supere 25% do valor original do contrato. Em outras palavras, as mudanças não podem aumentar nem diminuir o preço do empreendimento para além desse percentual. O TCU e o Dnit tinham entendimentos distintos sobre a regra. O Dnit fazia o cálculo levando em consideração as alterações em conjunto. Assim, tinha liberdade para mexer num item ou serviço, impactando o valor em mais de 25%, desde que, por exemplo, suprimisse um outro item ou serviço para compensar. O TCU determinou que o Dnit aplicasse o limite isoladamente, item por item ou serviço por serviço. O argumento é que, quando disputam licitações para as obras, as empresas fixam valores sobre os projetos apresentados. Se alterações vultosas nas quantidades são feitas depois, esses projetos são desfigurados. Em tese, as concorrentes que perderam poderiam, com base nas novas características, ter oferecido preços mais vantajosos. Na duplicação da BR-101 em Santa Catarina, por exemplo, as empresas são acusadas de "mergulhar" preços na hora da licitação e, mais tarde, se beneficiar de aumentos nos valores contratuais com base em mudanças nas quantidades. A decisão de terça-feira altera o texto de acórdão anterior, de março, fazendo valer o entendimento do tribunal apenas para obras futuras, a serem contratadas, e não as já em execução. Em seu voto, Walton Alencar alegou que o corte de contas não poderia se contrapor ao interesse público. O ministro ponderou, contudo, que a proposta não é "salvo conduto" para o Dnit promover alterações que venham a "solapar" os princípios da licitação pública. Procurado pelo GLOBO, Walton Alencar deu entrevista e desautorizou a área técnica do TCU a prestar esclarecimentos. Em nota, o Dnit informou que a deliberação evita "prejuízos maiores ao erário e ao cidadão em função da paralisação dos 101 contratos em andamento". (Do Valor Econômico)

Eliana Calmon diz que resolução polêmica do CNJ é boa para o Judiciário

                Dirceu Ayres                


Ministra Eliana Calmon defende papel do CNJ. A corregedora-geral de Justiça ministra Eliana Calmon, disse que a Resolução nº 135 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que está sendo questionada no Supremo Tribunal Federal (STF), fortalecerá o trabalho das corregedorias locais. A resolução foi editada em julho deste ano e traz regras sobre o poder de investigação do CNJ. Para a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), autora da ação, o fortalecimento do CNJ pode acabar sufocando o trabalho das corregedorias locais na apuração de desvios de magistrados. "A Resolução 135, que está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal, favorecerá também as corregedorias porque todas as vezes que o corregedor não conseguir abrir um processo administrativo em função dos votos contrários do pleno do tribunal, ele imediatamente comunicará isso para a corregedoria nacional”, disse Calmon, em entrevista divulgada nesta sexta-feira (28) pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Ela esteve no estado na quinta (27) para entregar um avião recuperado do tráfico para o Judiciário local. A ministra provocou polêmica no início do mês ao afirmar que a Justiça esconde bandidos atrás da toga. Suas declarações foram divulgadas na véspera de o STF analisar a ação da AMB e causaram reações no Judiciário. Desde então, o STF vem adiando a convocação do assunto para julgamento, apesar de ele sempre estar na pauta. Na mesma entrevista em Cuiabá, Eliana Calmon também defendeu a autonomia administrativa e financeira das corregedorias. “O que se quer é o fortalecimento das corregedorias locais não apenas de boca, mas o fortalecimento que é necessário e imprescindível, que é a independência econômico-financeira e administrativa”. Ela também acredita que as corregedorias devem ter orçamento próprio e corpo funcional fixo. “Dessa forma os corregedores chegam e passam e encontram um corpo efetivo que toma conta e tem a memória de todo o trabalho feito pelas corregedorias”. A ministra disse, ainda, que é preciso mudar a tradição de vincular as corregedorias às presidência dos tribunais. “Tenho encontrado situações em que o corregedor faz a escala de férias dos juízes, mas quem defere é o presidente do Tribunal. Isso não pode continuar acontecendo. Quem tem que saber se o juiz entra de férias, se está de licença, se vai sair para cursar uma bolsa de estudos é o corregedor”. Fonte: Agência Brasil.

hrushchev mentiu sobre Khrushchev mentiu sobre Stálin

    Dirceu Ayres         
Nikita Khrushchev mentiu sobre Stalin, afirma o historiador Grover Furr O dia 25 de fevereiro de 1956 é, sem dúvida alguma, um dos mais importantes da história do século 20, porque reflete uma mudança radical na política da União Soviética - que era, então, uma das duas superpotências do mundo. Nesse fatídico dia, o então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Nikita Sergeevich Khrushchev, proferiu seu famoso "Discurso Secreto" sobre o suposto culto à personalidade e suas conseqüências, em uma sessão fechada do 20º Congresso do PCUS. O conteúdo exposto visava minar a imagem de Josef Stálin, principal dirigente internacional comunista por mais de três décadas, secretário-geral do PCUS até sua morte, em 1953, e apresentá-lo como um monstro sanguinário e tirânico. Para tanto, foi relatada uma série de acusações, vilanias que Stálin teria cometido contra a "legalidade socialista". O discurso de Khrushchev teve um efeito devastador no movimento comunista internacional, desintegrando a unidade que fora conseguida com enorme esforço ao longo de décadas de luta. Muitos militantes se revoltaram contra o legado revolucionário de Stálin, que, há poucos anos, era símbolo de esperança por um novo mundo, e aderiram às posições khrushchevistas. Outros se mantiveram fiéis e passaram a criticar a nova liderança soviética, e houve também aqueles que simplesmente abandonaram suas lutas e perderam a esperança. E, não só isso, o discurso deu munição para a propaganda ocidental anticomunista, tornando-se um dos pilares do paradigma totalitário que até hoje domina a produção acadêmica de História acerca da União Soviética. Muito já se escreveu sobre este acontecimento e vários pesquisadores chegaram à conclusão de que alguns dos pontos levantados por Khrushchev eram falsos, como, por exemplo, a esdrúxula afirmação de que Stálin conduzia as operações militares da Grande Guerra Patriótica (como os russos chamavam a Segunda Guerra Mundial), utilizando um simples globo terrestre. No entanto, ninguém havia analisado profundamente o "Discurso Secreto" com o intuito de verificar todas as outras afirmações presentes nele, até o historiador americano Grover Furr encarar tal tarefa (veja em www.averdade.org.br entrevista com o professor Grover Furr). O resultado foi um primoroso trabalho de investigação histórica, lançado em inglês sob o nome "Khrushchev lied", que em português significa "Khrushchev mentiu". O professor Furr chegou à conclusão de que todas as afirmações do líder soviético eram falsas. Apresentou, para tanto, as devidas fontes documentais para cada uma das afirmações, com metade do livro dedicada a transcrições de documentos ou outras fontes utilizadas, além dos vários links para páginas na internet com documentação hospedada. O julgamento de Zinoviev e Kamenev Não é possível abordar neste pequeno artigo cada um dos vários tópicos investigados por Furr, porém, apenas para dar uma idéia do impacto desta obra, apresentarei um ponto que julguei interessante, relacionado ao famoso julgamento de Zinoviev e Kamenev, em 1936. Este julgamento é largamente apresentado como uma farsa planejada por Stálin para eliminar seus opositores políticos, assim como os outros dois juízos que compõem os chamados Processos de Moscou. No entanto, Furr transcreve um trecho de uma carta privada de Stálin para Kaganovich, que claramente demonstra um Stálin muito diferente. Ele não aparece como um forjador, como a mente por trás dos resultados das investigações policiais, mas sim como alguém que tenta compreender o que está ocorrendo através do material investigativo enviado a ele. Seria Stálin tão hipócrita a ponto de enviar uma carta a um camarada do Politburo (a direção do PCUS), fingindo que não sabia o que estava ocorrendo? Ou ele simplesmente não mandara fuzilar seus opositores? E é aí que reside um dos pontos fortes da obra: a riqueza documental à disposição do leitor nos faz pensar e repensar cada frase do autor, cada acontecimento relatado, sempre trazendo à tona dúvidas que nos fazem avançar rapidamente na leitura em busca de respostas. À parte tal riqueza de fontes na contra-argumentação ao "Discurso Secreto" de Khrushchev, a obra de Furr contém uma seção que apresenta sua interpretação histórica do processo político soviético. Baseado em sua extensa pesquisa e na do historiador russo Iúri Zhukov, Furr argumenta que o 20º Congresso do PCUS foi reflexo da própria dinâmica interna do socialismo soviético, do conflito entre os primeiros-secretários regionais do Partido e o Politburo, encabeçado por Stálin. O próprio Khrushchev foi, durante muito tempo, primeiro-secretário do Partido em Kiev (capital da Ucrânia, uma das principais repúblicas soviéticas) e também de Moscou, capital da URSS. Este conflito tem raízes na própria estrutura de poder da União Soviética, que dava brechas para a acumulação de poder e de privilégios por parte dos primeiros-secretários. Stálin percebeu este problema e, além de criticar duramente os burocratas carreiristas, tentou minar o poder deles. Sua principal arma foi a Constituição de 1936 e o novo Código Eleitoral, criado pelo próprio Stálin em conjunto com Iakovlev. De acordo com Furr e Zhukov, este novo código eleitoral - que previa eleições secretas, diretas e competitivas - batia de frente com as pretensões dos primeiros-secretários do Partido que, até então, mantinham-se em seus cargos por indicação. Este quadro pintado pelo historiador Grover Furr nos permite compreender melhor o conteúdo do "Discurso Secreto" de Khrushchev, que se converte de uma denúncia dos crimes de um tirano sanguinário em um poderoso golpe político. O 20º Congresso do PCUS surge então não como uma autocrítica da liderança soviética, mas como o símbolo da consolidação do poder de uma elite privilegiada do Partido, que nada queria com o socialismo. E para conseguir desarticular os que ainda afirmavam a linha revolucionária do Partido, nada mais sábio do que destruir a imagem de seu mais respeitado líder, Josef Stálin. (Paulo Gabriel é estudante de História da UnB) Fonte: A Verdade


O tumulto causado pelos rebeldes sem causa da USP Protesto de estudantes da USP regride o ensino.

                                                            Dirceu Ayres
O retrocesso da Universidade de São Paulo, onde os manifestantes parecem decididos a continuar estacionados em 1968, contrasta com as mudanças na Estudantes da USP protestam a prisão de três estudantes por estarem fumando maconha e a presença da polícia militar na Cidade Universitária, São Paulo. Confira as imagens: Estudantes da USP ocupam prédio da FFLCH após conflito com policiais - Rahel Patrasso/Frame/Folhapress O balanço da pancadaria: três PMs feridos, dois dos quais atingidos por pedras, e seis viaturas depredadas. A polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os manifestantes “Os policiais não são trabalhadores, são o braço armado$ dos exploradores”. A foto do cartaz com erros de português – ao lado de rapazes com o tronco à mostra e os rostos cobertos por camisetas – poderia ter sido tirada em alguma rebelião da Febem. Não foi. Quem aparece nas imagens são estudantes da Universidade de São Paulo (USP), uma das 100 melhores instituições de ensino superior do mundo. As cenas de fúria do bando de jovens se atracando com policiais militares e os gritos de “fora a imprensa golpista” berrados da janela do prédio transformado em bunker da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), poderiam ter sido pinçadas de um documentário sobre as manifestações estudantis contra a ditadura militar. Não foram – embora os manifestantes pareçam decididos a acreditar que continuam estacionados em 1968. Ao mesmo tempo em que o retrocesso pairava sobre a USP, a Universidade de Brasília (UnB) dava um exemplo de evolução. Nesta quinta-feira, a Aliança pela Liberdade, única chapa que não era composta por militantes profissionais, alimentados com recursos de partidos políticos, venceu a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). As propostas da nova diretoria passam longe da reforma agrária, da destruição do capitalismo global ou da defesa de Fidel Castro. Suas bandeiras são o aumento da segurança, o incentivo a parcerias com fundações privadas e a melhoria na gestão da burocrática instituição de ensino. São Paulo - “É lamentável que as reivindicações estudantis na FFLCH estejam limitadas ao interesse político de uma minoria”, observa o historiador Marco Antônio Villa. “Não existe uma luta para uma biblioteca melhor, para uma política de estágios eficiente ou até para ampliar o acesso da população à educação pública de qualidade”. Villa lembra que a USP não é um território à parte e, portanto, deve subordinar-se à Constituição – que proíbe o consumo de drogas. “A ditadura acabou em 1985”, enfatiza o historiador. “Naquela época, o que levava os estudantes a serem contra a presença da polícia não existe mais. Nos últimos anos, a USP passou por sérios incidentes envolvendo assaltos e mortes. Não há um motivo coerente para se opor a mais segurança”. O sociólogo Demétrio Magnoli evoca outro tópico das reivindicações: a exigência de eleições diretas para a reitoria da Universidade. “Nas décadas de 1960 e 1970 isso fazia sentido porque havia a necessidade de preservar a instituição de ensino como um território da liberdade de expressão”, afirma Magnoli. “Hoje não faz. A universidade é um patrimônio de toda a nação e, por isso, o representante dessa instituição pode ser escolhido por quem essa sociedade livre elegeu para representá-la”. O sociólogo estende o raciocínio à polêmica presença de policiais militares no campus. “Numa ditadura, é correto querer manter a polícia longe, porque ela é o braço armado de um governo ilegítimo”, diz. “Qual o argumento para fazer o mesmo em uma democracia?”. Depois de ponderar que qualquer forma de violência, tanto policial, quanto estudantil, deve ser punida de acordo com a lei, o antropólogo Paulo Roberto Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, lamenta: “Nunca a juventude esteve tão silenciosa”. Para Storani, é inquietante que, no momento em que decidem falar, alguns estudantes o façam para pedir a liberação do uso de uma droga. “Se quiserem lutar pela legalização da maconha, ótimo, mas que o façam pelos meios legais”, diz. “A corrupção foi institucionalizada e eles permanecem calados a esse respeito. Fazendo uma comparação superficial entre a direita e a esquerda no poder, fato que vivenciamos nas últimas décadas, fica evidente que a esquerda é muito mais capaz. Ela conseguiu silenciar os movimentos sociais com dinheiro e cargos públicos. A direita tentou isso com bombas e repressão e jamais conseguiu”. O tumulto - O tumulto na USP depois que três estudantes que fumavam maconha perto da faculdade de História da USP foram abordados por policiais militares no início da noite desta quinta-feira – desde o assassinato do aluno Felipe Ramos de Paiva, em setembro deste ano, o Conselho Gestor da Universidade firmou um convênio com a PM que permite a entrada da polícia no campus. Quando os policiais ameaçaram conduzir os alunos para a delegacia, colegas dos detidos tentaram impedir que eles entrassem na viatura. Então teve início a baderna. O balanço da pancadaria: três PMs feridos, dois dos quais atingidos por pedras, e seis viaturas depredadas. A polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os manifestantes. Testemunhas garantem que os alunos pilhados com entorpecentes não ofereceram resistência. Os policiais confirmam. “A polícia só disparou gás depois que os estudantes jogaram um cavalete no carro da PM”, afirmou o tenente José Ricardo Caresi. “Os alunos detidos toparam sair do campus com a PM, mas os colegas não deixaram”. Os três alunos acabaram levados para o 91º DP, na Vila Leopoldina, no carro da diretora da Faculdade de História, Sandra Nitrine, que tentou insistentemente evitar o tumulto. “O pessoal foi para cima da PM”, atestou um aluno de História. Depois da saída dos policiais, cerca de 300 estudantes organizaram um protesto em que exigiram à renúncia do reitor Grandino Rodas, a retirada da PM do campus e a dissolução do Diretório Central dos Estudantes, acusado de conivência com a polícia. Até a noite desta sexta-feira, os alunos permaneciam acampados no prédio da administração da FFLCH. Em nota, a reitoria da USP lamentou “os incidentes ocorridos no dia 27 de outubro”. Também garantiu que os fatos serão analisados pelo Conselho Gestor, “para a apresentação de propostas para o equacionamento da situação, e que serão divulgadas em data oportuna". É cedo saber se prevalecerão os gritos que clamam pelo cumprimento da lei.